Universidades de Copenhague e Bristol apresentaram uma ferramenta que calcula, com alta precisão, a probabilidade de uma criança desenvolver obesidade ao longo da vida. O estudo, divulgado na revista Nature Medicine, analisou dados genéticos de mais de cinco milhões de pessoas para construir o novo medidor de risco poligênico.
Obesidade na infância
O cálculo, conhecido como PGS, diante da expressão em inglês Polygenic Score, consegue apontar o risco antes mesmo dos cinco anos de idade. Esse período antecede a influência significativa de fatores ambientais como alimentação, rotina de exercícios e contexto familiar, oferecendo uma oportunidade inédita de intervenção precoce.
Segundo os pesquisadores, o PGS explica cerca de 17% da variação no índice de massa corporal entre indivíduos, o dobro da precisão registrada pelos métodos anteriores. Essa melhoria amplia a capacidade de identificar crianças que necessitam de acompanhamento específico, evitando que o peso se consolide em patamares elevados na vida adulta.
A base de dados utilizada faz parte de um dos maiores esforços genéticos já organizados, envolvendo o consórcio GIANT e a empresa 23andMe. A participação de grande número de genomas permitiu refinar o algoritmo e reduzir margens de erro na estimativa de risco.
Apesar da inovação, os autores destacam que a predisposição genética não determina o futuro de forma inexorável. Crianças classificadas como de alto risco ainda podem se beneficiar de orientações nutricionais, programas de atividade física e monitoramento médico frequente, fatores que ajudam a controlar o ganho de peso.
Obesidade e prevenção
Os cientistas ressaltam que pessoas geneticamente propensas costumam recuperar mais facilmente o peso após a interrupção de dietas ou exercícios. Por isso, planos de longo prazo e acompanhamento contínuo tornam-se essenciais para consolidar resultados e reduzir problemas metabólicos associados ao excesso de peso.
O novo modelo apresenta, entretanto, menor precisão em indivíduos com ascendência africana. A limitação decorre da menor representação desse grupo nos bancos de DNA utilizados, sinalizando a urgência de ampliar a diversidade nos estudos futuros para oferecer previsões confiáveis a toda a população.
Na prática, escolas, profissionais de saúde e formuladores de políticas públicas podem empregar o PGS para direcionar recursos a crianças mais vulneráveis. Programas de alimentação balanceada, incentivo à atividade física e educação nutricional podem ser planejados de modo personalizado e iniciado logo após a identificação do risco.
Além de reduzir a incidência de obesidade, intervenções precoces tendem a minimizar o aparecimento de doenças associadas, como diabetes tipo 2, hipertensão e problemas cardiovasculares. Dessa forma, o teste genético tem potencial para diminuir custos do sistema de saúde e melhorar a qualidade de vida da população.
Os pesquisadores continuam aprimorando o algoritmo para aumentar a precisão em todas as etnias. Novos levantamentos populacionais, especialmente em países com grande diversidade genética, devem alimentar futuras versões do PGS.
Enquanto isso, especialistas recomendam que pais, pediatras e educadores usem o teste como ferramenta de apoio, jamais como sentença definitiva. A combinação de informação genética, hábitos saudáveis e acompanhamento constante permanece como a estratégia mais eficaz para enfrentar a crescente prevalência de obesidade em todo o mundo.