A Terra apresentou nesta terça-feira, 22, uma aceleração incomum: o planeta concluiu a volta sobre seu próprio eixo 1,34 milissegundos antes do tempo considerado padrão, produzindo um dos dias mais curtos já medidos desde o início dos registros precisos.
Terra registra um dos dias mais curtos
A medição foi realizada por relógios atômicos de alta precisão, capazes de detectar variações de milésimos de segundo na duração do dia solar médio, referência adotada mundialmente para marcar o tempo civil.
O fenômeno não tem causa confirmada. Pesquisadores apontam hipóteses que vão de alterações nos ventos a oscilações do núcleo terrestre, mas ressaltam que nenhuma explicação isolada foi comprovada até agora.
Os episódios de aceleração e desaceleração da rotação são conhecidos, porém dias tão curtos permanecem raros. A redução registrada hoje somou 1,34 milissegundos, variação que, embora pequena, ultrapassa a média observada em décadas anteriores.
Segundo especialistas, mudanças desse tipo costumam ser temporárias. Mesmo assim, a sequência de registros mais rápidos nas últimas temporadas desperta atenção da comunidade científica internacional.
Consequências da aceleração da Terra
Se a tendência persistir, projeções indicam que, por volta de 2029, poderá ser necessário adotar um ajuste inédito chamado segundo bissexto negativo, procedimento que consiste em retirar um segundo dos relógios atômicos para realinhar o horário mundial ao movimento real do planeta.
Desde 1972, a coordenação de tempo global adiciona segundos bissextos positivos sempre que a rotação fica mais lenta, mas jamais executou a operação inversa. A possibilidade de um ajuste negativo passou a ser discutida diante do avanço gradual na velocidade de rotação medido nos últimos anos.
O impacto de um segundo a menos parece ínfimo para o cotidiano, porém sistemas de navegação, redes de telecomunicações, bolsas de valores e servidores de dados requerem sincronização rigorosa. A exclusão de um segundo exigiria mudanças de software, testes e ampla cooperação internacional para evitar falhas.
Roberto Pena Spinelli, físico formado pela Universidade de São Paulo e pesquisador em Inteligência Artificial, abordou o tema na coluna Fala AI. Ele destaca que pequenas discrepâncias no tempo oficial podem propagar erros em algoritmos de aprendizado de máquina usados para análise de dados em tempo real.
Organizações como o Observatório Naval dos Estados Unidos e o Serviço Internacional de Sistemas de Referência e Rotação da Terra acompanham continuamente a duração do dia. Esses institutos coletam dados de satélites, radiotelescópios e sensores terrestres, formando a base para qualquer decisão sobre ajustes no cronômetro global.
Embora as observações de hoje não determinem, por si só, a adoção imediata de medidas, elas reforçam a necessidade de monitoramento constante. Caso as variações se intensifiquem, reuniões entre organismos científicos e agências de padronização serão convocadas para definir o eventual calendário de implementação do segundo bissexto negativo.
A rotação do planeta já apresentou oscilações significativas em tempos geológicos remotos. Durante o período Devoniano, por exemplo, um dia tinha cerca de 22 horas. Entretanto, mudanças detectáveis em poucas décadas eram consideradas improváveis até a chegada de tecnologias capazes de medir milissegundos com exatidão.
O avanço na precisão dos instrumentos começou a revelar, a partir dos anos 1970, que o dia não é uma unidade estática. Flutuações ligadas a movimentos oceânicos, massas de ar e dinâmica do manto expõem a complexidade de manter a contagem do tempo alinhada ao comportamento físico do planeta.
Enquanto a comunidade científica investiga as causas e avalia possíveis consequências práticas, a população não percebe a diferença no relógio comum. A alteração de 1,34 milissegundos está muito abaixo da percepção humana, limitando-se a debates técnicos em institutos de metrologia e centros de pesquisa.
Por ora, a conclusão de que esta terça-feira figurou entre os dias mais curtos já documentados serve como alerta sobre a necessidade de ajustes futuros. Caso a aceleração fique comprovada como tendência, a retirada de um segundo dos padrões de tempo deverá entrar na agenda de organismos internacionais responsáveis pela coordenação horária.