Telecirurgia com IA no Amazonas: iniciativa da Diagnext
A startup brasileira Diagnext concluiu, em 4 de abril de 2025, uma prova de conceito que validou a realização de telecirurgias assistidas em três hospitais militares do Amazonas. O projeto, desenvolvido em parceria com a Intel, reuniu especialistas em Manaus, Tabatinga e São Gabriel da Cachoeira para operar fraturas de baixa complexidade com apoio remoto e inteligência artificial.
Quem lidera o projeto
O engenheiro de telecomunicações Leonardo Melo, fundador da Diagnext, estuda telemedicina desde o início dos anos 2000. Após atuar em empresas como HP e bancos, ele criou a startup para levar soluções médicas a regiões com infraestrutura limitada. A companhia detém seis patentes e já registrou mais de 100 mil exames de imagem no estado.
Como a telecirurgia assistida funciona
No modelo testado, o cirurgião remoto utiliza óculos de realidade aumentada conectados a câmeras 3D instaladas na sala operatória. As imagens são transmitidas em tempo real, permitindo que o especialista oriente a equipe local durante todo o procedimento. A Diagnext gerencia compressão de vídeo, tráfego de dados e estabilidade de rede.
Durante a prova de conceito, a comunicação foi garantida por satélites de órbita terrestre baixa e conexão Starlink, sem vínculo comercial com a operadora. A latência audiovisual ficou abaixo de 600 ms, mesmo em largura de banda entre 256 e 512 kbps.
Por que escolher o Amazonas
Melo optou pelo estado para atender populações com difícil acesso a especialistas. O Amazonas possui 1,5 milhão de km² e desafios logísticos que retardam o transporte de médicos experientes. A presença prévia da startup em projetos de telerradiologia no Norte, além de contatos com a secretaria estadual de saúde e as Forças Armadas, facilitou a implantação.
Resultados da prova de conceito
Cerca de 150 cirurgias de joelho e tratamento de fraturas foram concluídas com apoio remoto. Outro cem exames passaram por telerradiologia. Em 99,1% do período de testes a disponibilidade operacional foi mantida. Uma inteligência artificial europeia auxiliou na detecção de fissuras ósseas, acelerando diagnósticos.
A prova envolveu vídeo bidirecional, compressão adaptativa e gravação de conteúdo para fins de ensino médico. Embora o foco tenha sido procedimentos de baixa complexidade, a equipe avalia expandir para cirurgias de maior risco após novos testes.
Compressão adaptativa reduz tempo de envio de exames
Paralelamente às telecirurgias, a Diagnext aplicou sua tecnologia de compressão adaptativa de imagens médicas. Exames em formato DICOM tiveram redução média de 75 a 97% no tamanho dos arquivos, com preservação diagnóstica comprovada por quatro radiologistas em teste duplo às cegas.

Imagem: tecmundo.com.br
Com a compressão, o tempo de upload dos exames caiu de 45 para 2 minutos e os laudos foram emitidos em menos de 48 horas. A solução atende à Resolução 1.821/2007 do Conselho Federal de Medicina, que exige armazenamento de imagens por 20 anos, e diminui custos de infraestrutura.
Apoio da Intel e infraestrutura de hardware
Parceira de nível ouro da Intel, a Diagnext utiliza processadores Xeon de 4ª geração para tarefas de alta complexidade e CPUs Alder Lake de 12ª geração em estações de trabalho. Modelos Intel NUC servem como mini-PCs para captura e transmissão de vídeo nos centros cirúrgicos.
Segundo Fabiano Sabatini, Partner Sales Manager da Intel no Brasil, a longevidade das plataformas permite atualizações futuras sem substituição anual de equipamentos.
Próximos passos e expansão
A startup planeja avançar para uma fase operacional madura, com apoio do governo da Espanha para novas avaliações. A meta é replicar o sistema em outras regiões brasileiras, inclusive áreas afetadas por desastres naturais, e abrir caminho para telecirurgias robóticas em longo prazo.
Melo destaca que a telecirurgia assistida não apenas resolve emergências, mas também dissemina conhecimento. Médicos veteranos podem orientar colegas sem enfrentar deslocamentos exaustivos, reduzindo custos e tempo de espera para os pacientes.