Coca-Cola e Pepsi no espaço: bastidores da disputa
Em julho de 1985, a rivalidade histórica entre Coca-Cola e Pepsi atravessou a atmosfera terrestre. As duas fabricantes enviaram latas especialmente adaptadas para o voo STS-51F, realizado pelo ônibus espacial Challenger, marcando a primeira degustação de refrigerantes em microgravidade.
Transição da NASA cria brecha para a indústria
No início dos anos 1980, a NASA migrava do programa Apollo para a era dos ônibus espaciais. A agência buscava cardápios mais próximos da alimentação terrestre, substituindo alimentos liofilizados por opções variadas. A dificuldade em oferecer bebidas frias abriu espaço para parcerias comerciais.
Enquanto a agência incentivava maior hidratação a bordo, a ausência de refrigeração e a falta de embalagens adequadas limitavam o consumo de líquidos. Foi nesse contexto que a Coca-Cola enxergou uma oportunidade de pesquisa — e de marketing.
Coca-Cola apresenta a primeira proposta de lata pressurizada
Em 1984, executivos da Coca-Cola procuraram a NASA oferecendo testes de refrigerante gaseificado em gravidade zero. A empresa desenvolveu um recipiente pressurizado com válvula especial, atendendo às exigências de segurança e de consumo em microgravidade. O projeto custou cerca de US$ 250 mil e exigiu centenas de dias de trabalho técnico.
Na mesma época, Brian Dyson, então presidente da companhia na América do Norte, declarou ao The New York Times que a Coca-Cola negociava a instalação futura de máquinas de venda automática em estações espaciais. A fala trouxe visibilidade, mas também atraiu a atenção da concorrência.
Pepsi reage e aciona aliados políticos
Após a divulgação da iniciativa, Max Friedersdorf, vice-presidente de relações públicas da PepsiCo e ex-assessor do presidente Ronald Reagan, enviou carta à NASA reivindicando participação igualitária. No documento, ele lembrou que a Pepsi era “fortemente identificada” com o Partido Republicano, diferentemente da Coca-Cola, vista como aliada de Jimmy Carter.
A pressão surtiu efeito: um mês depois, a agência encerrou o projeto original. Mesmo assim, a Coca-Cola continuou anunciando que seu refrigerante voaria em julho de 1985, irritando a administração da NASA, que proibira publicidade no espaço.
Contratos paralelos e corrida contra o tempo
Para evitar favorecimento, a NASA firmou contratos com ambas as empresas para o mesmo voo. Com prazos curtos, a Pepsi desenvolveu sua própria lata pressurizada. Astronautas relataram que o protótipo lembrava “uma lata de creme de barbear”.
A disputa chegou à Casa Branca: executivos da Coca-Cola tentaram retirar a Pepsi da missão semanas antes do lançamento, mas a agência manteve as duas marcas a bordo.

Imagem: uol.com.br
Voo STS-51F: testes em microgravidade
Em julho de 1985, sete astronautas — entre eles Loren Acton, Tony England e Karl Henize — decolaram no Challenger. Durante turnos de 12 horas dedicados a pesquisas de física solar e ciência atmosférica, eles testaram os recipientes de refrigerante nos intervalos.
A equipe designada para a Coca-Cola abriu a lata primeiro. O líquido saiu morno, espumoso, mas com sabor semelhante ao terrestre. Horas depois, outra equipe avaliou a Pepsi. Pequenas esferas de bebida flutuaram pela cabine, permitindo até que os astronautas as soprassem e observassem giros no ar.
Para evitar comparação direta, a tripulação dividiu-se em dois grupos e não registrou preferência oficial por nenhuma das marcas.
Disputa retoma força ao retorno
Assim que o Challenger pousou, cada companhia declarou ter obtido maior sucesso. A Coca-Cola divulgou-se como “o primeiro refrigerante no espaço” por ter sido testada minutos antes da rival. A Pepsi salientou o desempenho de sua embalagem e o ineditismo de levar duas bebidas gaseificadas ao mesmo tempo.
Legado limitado nas missões espaciais
Apesar da repercussão política e comercial, o episódio não virou rotina nos voos tripulados. Quarenta anos depois, bebidas gaseificadas continuam fora do cardápio oficial da NASA, sobretudo pelas dificuldades de consumo em microgravidade e pela ausência de benefícios nutricionais.
A “guerra das colas” no espaço permanece como um caso singular de convergência entre marketing, política e exploração espacial, lembrado mais pela curiosidade histórica do que por impacto tecnológico duradouro.
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