TÍTULO: Polícia Civil desmonta app de transporte clandestino usado pelo tráfico na Vila Kennedy
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App de transporte do tráfico é alvo de operação no Rio de Janeiro
Rotax Mobili gerava até R$ 1 milhão por mês para o Comando Vermelho
A Polícia Civil do Rio de Janeiro cumpriu, na sexta-feira (8), uma operação para desarticular o aplicativo Rotax Mobili, criado para financiar o tráfico de drogas na Vila Kennedy, Zona Oeste da capital. A investigação aponta que o serviço clandestino rendia até R$ 1 milhão mensais à facção Comando Vermelho.
Coordenada pela 34ª Delegacia de Polícia (Bangu), a ação teve apoio do 2º Departamento de Polícia de Área, Coordenadoria de Recursos Especiais, Departamento-Geral de Polícia Especializada, Departamento-Geral de Polícia da Baixada e Departamento-Geral de Polícia do Interior.
Como o aplicativo funcionava
O Rotax Mobili operava de forma semelhante a plataformas de transporte convencionais. Mototaxistas se cadastravam, eram chamados por usuários e recebiam o pagamento das corridas. A diferença, segundo os investigadores, é que todo o valor arrecadado era repassado ao chefe do tráfico local.
Mais de 300 mototaxistas foram coagidos a instalar o aplicativo. Motoristas de outras plataformas eram expulsos da região, criando um monopólio imposto pela organização criminosa. Mensagens enviadas aos profissionais deixavam claro o tom de ameaça: “Quem não tiver com o aplicativo, infelizmente não vai trabalhar”.
Estrutura do esquema
O inquérito identifica dois núcleos principais na operação do aplicativo:
1. Coerção e controle: responsáveis por intimidar mototaxistas e impedir a atuação de concorrentes. Esse grupo usava ameaças físicas e extorsão para manter a adesão obrigatória.
2. Administração financeira: encarregado de recolher os valores gerados pelas corridas e transferir os recursos ao comando do tráfico.
De acordo com o delegado Alexandre Cardoso, o aplicativo funcionou por cerca de três meses. Nesse período, motoristas eram obrigados a pagar uma espécie de licença para circular na Vila Kennedy. “Na prática, o que eles vendem é permissão para atuar no território dominado”, explicou.
Operação policial e prisões
Foram expedidos sete mandados de prisão temporária e 12 de busca e apreensão em comércios de fachada e residências na Zona Oeste, em Niterói e no interior do estado. Pelo menos quatro pessoas foram presas durante a operação.
Imagem: Divulgação via olhardigital.com.br
A polícia apreendeu celulares, computadores e documentos que detalham a contabilidade do aplicativo. Programadores profissionais contratados pela facção desenvolveram a plataforma, que chegou a ser disponibilizada na Google Play Store antes de ser retirada do ar.
Efeitos sobre a comunidade
Moradores da Vila Kennedy contaram à Polícia Civil que, mesmo após o desligamento do app, apenas mototaxistas autorizados pelos criminosos continuam circulando no bairro. O controle do transporte local é parte da estratégia da facção para manter o domínio territorial e ampliar fontes de renda, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Especialistas ouvidos pela investigação destacam que a prática tende a se repetir enquanto grupos criminosos controlarem áreas urbanas. “Eles podem criar outro aplicativo amanhã. Se for derrubado, lançam um novo enquanto tiverem condição de manter o território”, afirmou o pesquisador Guaracy Mingardi.
Expansão planejada
Documentos apreendidos indicam que o Comando Vermelho pretendia estender o Rotax Mobili a outras comunidades sob sua influência. O plano previa contratar mais programadores e ampliar a divulgação do serviço clandestino em bairros vizinhos.
Com a retirada do aplicativo do ar e a prisão de parte dos responsáveis, a Polícia Civil busca identificar todos os envolvidos na programação e na gestão financeira da plataforma. O objetivo é bloquear eventuais novas versões antes que sejam lançadas.
Próximos passos da investigação
Os materiais recolhidos serão periciados pelo Departamento-Geral de Polícia Técnico-Científica para rastrear transações bancárias e criptomoedas ligadas ao esquema. A corporação avalia ainda solicitar cooperação internacional para impedir a hospedagem do aplicativo em servidores fora do país.
As diligências continuam e novas prisões não estão descartadas. A Polícia Civil reforça que moradores e mototaxistas podem fornecer informações de forma anônima pelo Disque-Denúncia.
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