Recorde mundial de velocidade de internet
Uma equipe do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação e Comunicação (NICT), em parceria com a Sumitomo Electric, demonstrou uma transmissão de 125 mil gigabytes por segundo. O teste percorreu 1.808 quilômetros de fibra óptica, superando todas as marcas anteriores. O resultado foi divulgado durante a 48ª Conferência de Comunicações por Fibra Óptica (OFC 2025), em São Francisco.
O desempenho é quase quatro milhões de vezes mais rápido que a banda larga residencial média nos Estados Unidos. O experimento reforça a liderança japonesa em pesquisa de redes de altíssima capacidade. Especialistas consideram o feito um marco técnico na preparação para demandas de tráfego previstas para a próxima década.
Até então, o recorde reconhecido era de 50.250 GB/s, obtido por cientistas do Reino Unido em 2024. Em cenários de extensão curta, o próprio NICT já havia ultrapassado 212 mil GB/s, mas não em longas distâncias. A nova medição combina elevada taxa de dados e alcance significativo, condição considerada essencial para uso prático.
Quem realizou e quando
O projeto foi conduzido por pesquisadores do NICT, ente ligado ao governo japonês dedicado a tecnologias de informação. A Sumitomo Electric forneceu insumos de desenvolvimento e validação da nova fibra. A apresentação ocorreu em março, no principal evento global dedicado a comunicações ópticas.
As instituições trabalham em conjunto há vários anos na busca por cabos de múltiplos núcleos. O objetivo é dobrar ou triplicar a capacidade sem alterar o diâmetro externo, viabilizando a adoção em infraestrutura já instalada. O anúncio na OFC reforça a estratégia de compartilhar avanços em fóruns técnicos para acelerar padronizações.
No mesmo evento foram discutidos cenários de adoção comercial em regiões asiáticas e norte-americanas. Fabricantes de equipamentos e operadoras acompanharam os resultados para avaliar cronogramas de testes de campo. A integração em redes metropolitanas é vista como o próximo passo.
Como o teste foi conduzido
Tecnologia da fibra óptica de 19 núcleos
O cabo empregado tem 0,127 milímetro de espessura, dimensões próximas às de fibras instaladas em redes existentes. Dentro do revestimento, 19 núcleos independentes transportam sinais simultâneos. Cada núcleo age como um canal isolado, multiplicando a capacidade total sem exigir novos dutos subterrâneos.
Esse arranjo permite inserir a fibra em infraestrutura convencional de provedores. A compatibilidade física reduz custos de implantação ao evitar obras de substituição completa de cabos. Além disso, o desenho multicore diminui a necessidade de multiplexação densa, simplificando parte dos equipamentos terminais.
Pesquisadores destacam que o número de núcleos foi escolhido para equilibrar ganho de capacidade e complexidade de fabricação. Estudos anteriores com 12 e 16 núcleos serviram de base para o modelo de 19, considerado atualmente o que oferece melhor relação desempenho-custo.
Amplificação e correção de sinal
Para preservar a integridade dos dados ao longo dos 1.808 km, o conjunto utilizou amplificadores ópticos distribuídos. Esses dispositivos reforçam o pulso luminoso sem convertê-lo em sinal elétrico, limitando perdas e interferências entre canais. A topologia adotada equivale a repetições a cada 86,1 km.

Imagem: uol.com.br
Os pesquisadores montaram um sistema de recirculação que realimentou o cabo 21 vezes, simulando uma rota extensa sem precisar de trajeto físico contínuo. O método é habitual em laboratórios para validar desempenho em longa distância. Todas as etapas foram monitoradas por equipamentos de medição calibrados.
Ao final do percurso, um processador digital com tecnologia MIMO corrigiu interferências cruzadas. O algoritmo analisa o sinal recebido em cada núcleo, identifica ruídos e reconstrói os pacotes de dados. Esse bloqueio de erros foi essencial para manter a taxa efetiva de 125 mil GB/s sem perdas perceptíveis.
Comparativo com marcas anteriores
O novo resultado quadruplica o recorde homologado em 2024, obtido em laboratório britânico sobre fibra óptica convencional de núcleo único. A diferença evidencia o potencial das arquiteturas multicore para ampliar larguras de banda. Entre 2020 e 2024, os incrementos vinham ocorrendo de forma incremental; a marca japonesa representa salto quantitativo.
Em 2022, outra equipe do NICT havia registrado 1,02 petabit por segundo, porém em apenas 51,7 km. A limitação de alcance impedia aplicação direta em redes de backbone. O avanço atual mostra que taxas na ordem de petabits podem ser mantidas em rotas transcontinentais, elemento considerado decisivo para tráfego intercontinental.
Pesquisadores estimam que, caso seja implementada em cabos submarinos, a tecnologia reduziria o número de fibras necessárias em até 90%. A economia envolveria menos repetidores, menor consumo de energia e simplificação de manutenção. Companhias marítimas já avaliam protótipos para novas ligações Ásia-América do Norte.
Impacto para a era pós-5G
Relatórios setoriais apontam crescimento exponencial de dados com a popularização de aplicações de realidade estendida, streaming em 8K e internet das coisas industrial. As redes atuais, projetadas na década passada, enfrentam gargalos previstos para meados de 2030. Fibras de múltiplos núcleos surgem como opção de curto prazo para conter a demanda.
O NICT ressalta que a pesquisa combina capilaridade elevada e alcance continental, fatores imprescindíveis para interligar data centers e pontos de troca de tráfego. A expectativa é incorporar a solução aos padrões internacionais que orientam fabricantes de transponders e sistemas MIMO. Esse processo envolve testes adicionais de confiabilidade e durabilidade.
O anúncio na OFC 2025 sinaliza que redes ópticas de altíssima capacidade estão próximas da maturidade comercial. Operadoras globais, centros acadêmicos e fornecedores de componentes discutem agora cronogramas para pilotos em produção. A adoção em larga escala dependerá de custos e viabilidade regulatória em cada mercado.