LibreOffice critica estratégia de bloqueio
A The Document Foundation, responsável pelo pacote LibreOffice, divulgou na sexta-feira, 18 de julho, um comunicado afirmando que a Microsoft torna deliberadamente complexos seus formatos proprietários de documentos para desestimular a migração a outras plataformas.
O texto é assinado por Italo Vignoli, um dos fundadores da entidade sem fins lucrativos, e descreve a prática como “fidelização forçada ao fornecedor”, sustentando que a complexidade do Office Open XML (OOXML) impede concorrentes de oferecer compatibilidade plena.
LibreOffice aponta impacto na interoperabilidade
De acordo com Vignoli, a engenharia do OOXML apresenta estruturas de tags profundamente aninhadas, múltiplos namespaces, centenas de elementos opcionais e convenções de nomenclatura pouco intuitivas, além de documentação considerada escassa e confusa.
O comunicado compara a situação a uma malha ferroviária pública onde apenas uma fabricante domina um sistema de controle excessivamente sofisticado, garantindo que apenas seus próprios trens circulem sem restrições.
O LibreOffice, por padrão, grava arquivos no OpenDocument Format (ODF) — extensões .ODT e .ODS — desenvolvido como padrão aberto para interoperabilidade ampla.
Já a suíte Microsoft 365 emprega o OOXML, visto nos formatos .DOCX e .XLSX, também baseado em XML, porém com camadas adicionais que, segundo a fundação, não seriam tecnicamente necessárias para funcionamento ou segurança.
Vignoli afirma que a estratégia prende usuários que hoje dependem de recursos avançados do Microsoft Office e, consequentemente, os obriga a permanecer em serviços ligados ao ecossistema Windows e Microsoft 365.
Ele argumenta que a prática se assemelha à migração compulsória do Windows 10 para o Windows 11, descrevendo esse movimento como mudança sem justificativa técnica que mantém o consumidor sob controle da empresa.
A denúncia menciona que governos e organizações internacionais demonstram inércia diante do problema, permitindo que o poder de mercado da Microsoft continue intocado.
Para a The Document Foundation, a falta de ação regulatória reforça barreiras técnicas que podem servir de base para aumentos de preços ou imposição de assinaturas recorrentes.
O comunicado ressalta que tanto ODF quanto OOXML utilizam a linguagem XML, concebida para ser legível por humanos e máquinas; porém, a implementação da Microsoft incluiria abstrações “desnecessárias”, dificultando leitura e manutenção por desenvolvedores externos.
A fundação observa que, na prática, poucos projetos independentes conseguem interpretar todos os elementos possíveis do OOXML, o que leva a erros de formatação ou perda de função ao abrir documentos fora do Office.
No panorama descrito, usuários finais muitas vezes não percebem o bloqueio tecnológico, pois os arquivos continuam a funcionar quando compartilhados dentro do ecossistema Microsoft.
A barreira torna-se visível apenas quando se tenta adotar soluções alternativas, momento em que incompatibilidades e perda de recursos avançados induzem o retorno à plataforma dominante.
Vignoli conclui que “complexidade aprisiona, enquanto simplicidade liberta” e recomenda a desenvolvedores a escolha de padrões abertos claros para impedir dependência excessiva de um fornecedor.
Embora o manifesto não produza efeitos imediatos, a The Document Foundation espera que a discussão reforce a necessidade de políticas públicas de incentivo à interoperabilidade e ao uso de formatos abertos em órgãos governamentais.
Até o momento, a Microsoft não respondeu publicamente às acusações presentes no comunicado da fundação.
Especialistas do setor observam que disputas sobre padrões de documentos podem ganhar repercussão em tribunais e órgãos reguladores, principalmente em temas ligados a concorrência e direito do consumidor.
A The Document Foundation informa que continuará divulgando análises técnicas do OOXML para demonstrar pontos específicos de complexidade e reforçar o argumento de que mudanças estruturais são possíveis sem prejuízo às funcionalidades atuais.
O grupo também planeja oferecer ferramentas que facilitem a adoção do ODF em ambientes corporativos e educacionais, buscando reduzir a dependência de soluções proprietárias.
Por ora, a acusação marca novo capítulo na longa disputa entre defensores de software livre e a Microsoft em torno de formatos de arquivos e interoperabilidade em escritórios digitais.