O setor brasileiro de tecnologia avalia que o aumento de tarifas anunciado pelos Estados Unidos sobre determinados produtos deve esfriar investimentos em inteligência artificial (IA) no país. A análise é da Associação Brasileira de Software (Abes), que representa empresas desenvolvedoras e fornecedoras de soluções digitais.
Impacto indireto das novas tarifas
Embora as exportações de software para o mercado norte-americano representem menos da metade dos cerca de US$ 835 milhões enviados anualmente, a Abes afirma que o tributo extra repercutirá em toda a cadeia. Empresas diretamente sobretaxadas, como as dos setores industrial e de manufatura, precisarão rever custos e poderão adiar projetos de modernização.
Redução de demanda preocupa desenvolvedores
Para Jorge Sukarie Neto, presidente da entidade, fornecedores de sistemas dependem dos clientes que agora terão margens mais apertadas. Se esses consumidores desacelerarem contratações de tecnologia, a indústria de software perde fôlego para investir em novas soluções e capacitar equipes em IA.
Janela de oportunidade pode se fechar
Sukarie Neto considera que o momento atual é decisivo para adoção da inteligência artificial. Ele avalia que o atraso na modernização criará desvantagem competitiva internacional, pois outros mercados seguem acelerando a aplicação de algoritmos em processos produtivos e de serviços.
Onda de IA exige rapidez
Segundo a Abes, a tecnologia tem penetração horizontal na economia, alcançando do agronegócio às finanças. Se setores afetados pelo tarifaço diminuírem investimentos, projetos de automação baseados em IA também tendem a ser postergados, reduzindo ganhos de eficiência previstos para os próximos anos.
Projeção de crescimento mantida em 9,5%
Apesar da preocupação, a associação manteve a estimativa de alta de 9,5% no mercado brasileiro de software e serviços de tecnologia da informação em 2024. A projeção leva em conta o desempenho registrado desde janeiro, período anterior ao anúncio das tarifas adicionais, e pressupõe que contratos já assinados serão cumpridos.
Expectativa considera contratos em andamento
A Abes pondera, contudo, que a revisão do cenário dependerá da velocidade com que os efeitos do tributo apareçam nas empresas clientes. Caso projetos sejam suspensos ou cancelem licenças, a previsão poderá ser ajustada ao longo do segundo semestre.
Brasil ocupa 10º lugar em investimentos em TI
Estudo produzido pela Abes em parceria com a consultoria IDC mostra que o país figura como o décimo maior investidor global em software, serviços de TI e hardware. Em 2023, o montante alcançou US$ 59 bilhões, cifra próxima à da Austrália, nona colocada, com US$ 60 bilhões.

Imagem: uol.com.br
Posição melhora quando telecom entra na conta
Incluindo aportes em telecomunicações, o Brasil sobe uma posição, chegando ao nono lugar, com US$ 90 bilhões aplicados. Esses números reforçam a relevância do mercado interno e evidenciam o risco de queda de ritmo caso o tarifaço provoque retração na demanda por tecnologias emergentes, como a IA.
Setor pede atenção a políticas de incentivo
A Abes defende medidas que amortizem impactos externos e estimulem a digitalização. Entre as sugestões estão linhas de financiamento específicas, redução de burocracia para importação de hardware e programas de qualificação profissional voltados à inteligência artificial.
Objetivo é preservar competitividade
Segundo a entidade, o país precisa avançar na adoção de IA para manter produtividade, atrair investimento estrangeiro e gerar empregos de alta qualificação. Interrupções nesse movimento podem resultar em perda de mercado para concorrentes que não enfrentam restrições semelhantes.
Cenário permanece em monitoramento
O setor de tecnologia acompanhará a resposta das empresas afetadas pelas tarifas ao longo dos próximos meses. Se o reajuste de custos se refletir em cortes de projetos digitais, novas projeções de crescimento poderão indicar desaceleração mais acentuada que a hoje prevista.
Por enquanto, a indústria de software sustenta que o impacto será indireto, mas significativo: menos recursos disponíveis em seus principais clientes podem atrasar a adoção de ferramentas de inteligência artificial e, com isso, limitar ganhos de competitividade do Brasil no médio prazo.