Um objeto comum em tribunais e delegacias de vários países, a tornozeleira eletrônica nasceu de uma ideia retirada das páginas do Homem-Aranha. O equipamento, hoje utilizado para monitorar investigados e condenados, surgiu após um juiz norte-americano ler uma tira do herói publicada em 1977.
Origem da tornozeleira eletrônica em história do Homem-Aranha
Nos anos 1970, além das revistas mensais, o Homem-Aranha aparecia em tiras diárias distribuídas a jornais dos Estados Unidos. Entre agosto e setembro de 1977, uma dessas publicações mostrou o vilão Rei-do-Crime prendendo uma pulseira no herói para rastrear cada movimento do personagem.
Inspiração direta para um membro do Judiciário
O enredo chamou a atenção do juiz Jack Love, então em atividade no estado do Novo México. Ao perceber a utilidade de um dispositivo semelhante para o sistema penal, Love procurou o engenheiro de eletrônica Michael Goss. Juntos, os dois iniciaram o desenvolvimento de um equipamento real baseado na ideia vista nas tiras.
Desenvolvimento do primeiro protótipo
O produto concebido pela dupla recebeu inicialmente o nome de “algema eletrônica”. Medindo aproximadamente o tamanho de uma caixa de cigarros, o aparelho era fixado ao tornozelo da pessoa monitorada e se comunicava por radiofrequência com um receptor doméstico conectado a uma linha telefônica fixa.
Funcionamento técnico
A cada 60 segundos, o transmissor enviava um sinal pelo telefone para confirmar que o monitorado permanecia dentro de um raio de 45 metros. Caso o limite fosse ultrapassado, o sistema disparava automaticamente uma chamada para a central da polícia, informando o descumprimento das condições impostas pelo juiz.
Primeiros testes oficiais em 1983
O uso documental inaugural ocorreu em 1983, quando Jack Love aplicou o equipamento em três condenados considerados de baixa periculosidade. Entre eles estava um homem detido por emitir cheques sem fundo que precisava cuidar de uma criança em casa.
Resultados variados
Depois de 30 dias monitorado, o primeiro participante foi preso novamente, desta vez por furto em uma loja. O segundo caso envolveu um veterano da Guerra do Vietnã que violou a condicional seis dias após receber a tornozeleira ao aparecer embriagado, o que resultou em nova prisão por receptação de bens roubados.
O terceiro teste tinha como alvo um motorista reincidente em conduzir veículo sob efeito de álcool. Ele cumpriu o período de 30 dias sem novas infrações registradas, demonstrando ao juiz a utilidade potencial do sistema em situações específicas.
Expansão comercial e dificuldades financeiras
O êxito inicial levou Love a deixar o cargo na magistratura para se dedicar integralmente à Goss-Link, empresa criada com Michael Goss para fabricar o equipamento. Mesmo pioneira, a companhia enfrentou dificuldades de financiamento e foi à falência em 1984, pouco depois de introduzir o produto no mercado.
Popularização do conceito
A falência, contudo, não impediu a disseminação da tecnologia. Outras fabricantes adotaram a ideia e passaram a oferecer versões aprimoradas, fator que consolidou o uso da tornozeleira eletrônica por tribunais norte-americanos e, posteriormente, por sistemas judiciais de diversos países, incluindo o Brasil.
Aplicação atual no Brasil
No território brasileiro, a tornozeleira eletrônica é empregada como medida cautelar para investigados que ainda aguardam sentença ou como alternativa ao regime fechado em determinadas condenações. O objetivo oficial é permitir que a pessoa responda ao processo em liberdade, mas sob supervisão constante das autoridades.
Quase cinco décadas após a tirinha do Homem-Aranha inspirar sua criação, o dispositivo tornou-se peça importante no controle penal. A trajetória ilustra como a ficção pode oferecer soluções concretas para desafios da vida real, influenciando decisões judiciais e órgãos de segurança em todo o mundo.