O governo de Donald Trump intensificou a procura por novos fornecedores para o Domo de Ouro, sistema espacial de defesa antimísseis avaliado em US$ 175 bilhões, após o rompimento público com Elon Musk em 5 de junho.
Autoridades da Casa Branca e do Pentágono, segundo fontes ouvidas pela Reuters, avaliavam alternativas à SpaceX mesmo antes da briga, temendo ficar atreladas a um único operador em um projeto dessa magnitude.
Domo de Ouro na agenda estratégica
Inspirado no Domo de Ferro israelense, o Domo de Ouro exigirá milhares de satélites em órbita baixa para detecção, rastreamento e eventual interceptação de mísseis balísticos que apontem para o território norte-americano.
O plano foi lançado na primeira semana do segundo mandato de Trump e avança em cronograma acelerado, com apoio legislativo e orçamentos reforçados para a Força Espacial dos Estados Unidos.
O Congresso aprovou US$ 13 bilhões para serviços de comunicação via satélite, um salto superior a dez vezes em relação aos ciclos anteriores, parte dos US$ 25 bilhões já liberados pela nova lei fiscal assinada pelo presidente.
Para coordenar a iniciativa, o general Michael Guetlein recebeu confirmação do Senado em 17 de julho e ganhou 30 dias para montar equipe, 60 dias para apresentar o esboço do programa e 120 dias para detalhar o plano definitivo.
Domo de Ouro atrai competidores civis e militares
Com o desgaste com Musk, o governo iniciou diálogos formais com a Amazon, dona do Project Kuiper, e com grandes contratadas de defesa, buscando dividir tarefas de lançamento, rastreamento e comunicações entre vários fornecedores.
O Project Kuiper, orçado em US$ 10 bilhões, lançou 78 satélites de uma meta de 3 mil e passou a ser visto como candidato para fornecer links criptografados e sensores de monitoramento, elementos centrais do escudo orbital.
Jeff Bezos já admitiu que haverá uso militar para a constelação da Amazon, embora a vocação principal seja comercial; ajustes de segurança cibernética serão exigidos para resistir a interferências e guerra eletrônica.
A SpaceX, que colocou mais de 9 mil satélites Starlink em órbita e domina o mercado de lançamentos do governo, ainda é favorita para fases críticas, mas sua fatia pode encolher conforme novas licitações forem abertas.
Elon Musk declarou na rede X que a SpaceX não se candidatou a contratos do Domo de Ouro e manterá o foco na missão de levar humanos a Marte, posição que reforçou a busca por parceiros mais alinhados às prioridades militares.
Gigantes do setor de defesa como Lockheed Martin, Northrop Grumman, L3Harris e RTX manifestaram interesse; a Northrop desenvolve um interceptador baseado no espaço, enquanto a L3Harris reportou maior demanda por sensores de rastreamento.
Empresas emergentes, entre elas Stoke Space e Rocket Lab, podem entrar na disputa quando o governo licitar lançamentos individualmente, estratégia concebida para evitar concentração de contratos em um só provedor.
Companhias de tecnologia próximas à administração, como Palantir e Anduril, também surgem como candidatas para módulos de análise de dados e defesa autônoma, ampliando o espectro competitivo do programa.
Internamente, assessores de segurança ponderam que a multiplicidade de parceiros exigirá padrões unificados de criptografia, protocolos de comando e procedimentos de resposta a falhas, a fim de garantir interoperabilidade em tempo de crise.
Especialistas militares alertam que um escudo antimísseis espacial poderá estimular rivais a acelerar arsenais ofensivos ou militarizar ainda mais a órbita, mas reconhecem que o projeto pode redefinir a postura defensiva dos Estados Unidos.
Para mitigar riscos geopolíticos, o Departamento de Estado monitora reações de potências nucleares, enquanto o Pentágono analisa cenários de escalada e estratégias de dissuasão adaptadas ao novo ambiente orbital.
No campo técnico, a vulnerabilidade a ataques cibernéticos permanece prioridade; em 2024, Musk revelou que a SpaceX destinou recursos significativos para conter interferências russas na Starlink, problema que também preocupa futuros operadores do Domo de Ouro.
A expectativa é que os primeiros satélites dedicados ao sistema comecem a ser colocados em órbita antes do fim de 2026, caso o cronograma de Guetlein seja cumprido e as licitações avancem sem contestações judiciais.
Até lá, a administração Trump espera consolidar um ecossistema industrial diversificado, capaz de produzir, lançar e operar milhares de satélites em ritmo contínuo, reduzindo custos e aumentando a resiliência do escudo espacial.
A evolução do programa será acompanhada de perto pelo Congresso, que deverá autorizar novos aportes anuais, avaliar relatórios de progresso e fiscalizar possíveis conflitos de interesse entre empresas concorrentes.
Se mantida a trajetória atual, o Domo de Ouro se tornará o maior empreendimento de defesa espacial já iniciado pelos Estados Unidos, combinando recursos civis e militares em uma constelação global destinada a proteger o país de ameaças balísticas emergentes.