O Ministério da Saúde anunciou um aporte de R$ 450 milhões para fortalecer a soberania científica do Brasil. O pacote inclui a criação do primeiro Centro de Competência em tecnologias de RNA do país, novas unidades Embrapii e projetos de alto impacto em dispositivos médicos e medicamentos.
Investimento estratégico para soberania científica
O investimento foi divulgado na sexta-feira, 25, durante o evento Saúde Estratégica Brasil Américas, realizado em São Paulo. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovações, Luciana Santos, detalharam as iniciativas que receberão os recursos.
A verba de R$ 450 milhões integra um conjunto de ações para reduzir a dependência externa em insumos críticos. A expectativa é ampliar a produção nacional de vacinas, terapias e equipamentos, atendendo demandas prioritárias do Sistema Único de Saúde (SUS).
Os valores serão distribuídos entre o Centro de Competência em RNA, seis novas unidades Embrapii em áreas de saúde e projetos de alto impacto focados em tecnologias médicas e doenças negligenciadas.
Centro de Competência em RNA recebe R$ 60 milhões
Do total anunciado, R$ 60 milhões destinam-se à instalação do primeiro Centro de Competência em tecnologias de RNA. A unidade terá como missão acelerar o desenvolvimento de vacinas e terapias baseadas na molécula, aproximando universidades, startups e empresas.
Entre os objetivos estão a criação de imunizantes considerados prioritários para as Américas, a oferta de suporte técnico a outras instituições e a capacitação de equipes em pesquisa e desenvolvimento na área.
O ministério aposta que o ambiente colaborativo permitirá ganho de escala e redução de custos na produção nacional, encurtando prazos de resposta a emergências sanitárias futuras.
Funcionamento da tecnologia de RNA
O RNA, ou ácido ribonucleico, carrega instruções para a síntese de proteínas. Diferentemente do DNA, que possui dupla hélice, o RNA é formado por uma única fita, o que facilita sua manipulação em laboratório.
Nas vacinas de RNA mensageiro, cientistas criam uma sequência sintética que codifica parte de uma proteína do agente infeccioso. Quando aplicada, essa molécula ensina o organismo a reconhecer o patógeno sem expor o paciente ao vírus.
Durante a pandemia de Covid-19, a tecnologia demonstrou segurança e eficácia, permitindo a fabricação rápida de imunizantes contra o coronavírus. O novo centro pretende ampliar esse know-how para outras doenças.
Novas unidades Embrapii fortalecerão inovação em saúde
Além do foco em RNA, o pacote prevê R$ 30 milhões para criar seis unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii). As instituições atuarão em biofármacos, dispositivos médicos e saúde digital.

Imagem: João Risi via olhardigital.com.br
As unidades deverão desenvolver tecnologias alinhadas às necessidades do SUS, como novos modelos de diagnóstico, equipamentos hospitalares avançados e soluções de telemedicina.
O objetivo é aproximar centros de pesquisa e setor produtivo, acelerando a transferência de tecnologia e a entrada de produtos brasileiros no mercado.
Projetos de alto impacto somam R$ 60 milhões
Outra fatia do investimento, de R$ 60 milhões, financiará projetos dedicados a dispositivos médicos e diagnósticos avançados. A linha contempla ainda a fabricação nacional de medicamentos voltados a doenças negligenciadas.
Esses recursos buscam estimular pesquisas que gerem impacto direto na assistência, ampliando a oferta de terapias a populações vulneráveis. O ministério espera que a iniciativa diminua custos de importação e fortaleça a indústria farmacêutica local.
A seleção dos projetos priorizará propostas com potencial de escalabilidade e retorno rápido para o sistema público de saúde.
Parcerias e próximos passos
Para executar as ações, o governo prevê a formação de consórcios entre instituições públicas, universidades, empresas e startups. Modelos de financiamento compartilhado e editais de chamada pública serão utilizados para escolher os participantes.
O cronograma inclui a implantação do Centro de Competência em RNA ainda em 2023 e a habilitação das novas unidades Embrapii até o primeiro semestre de 2024. Os projetos de alto impacto deverão ser contratados no mesmo período.
Com o aporte, o Ministério da Saúde pretende ampliar a capacidade nacional de resposta a emergências sanitárias, estimular a inovação industrial e reduzir a dependência de insumos estratégicos importados.