WASHINGTON (23) – O ex-presidente Donald Trump assinou, nesta quarta-feira, uma ordem executiva que proíbe o uso de sistemas de inteligência artificial classificados como “woke” em qualquer contrato financiado pelo governo federal dos Estados Unidos.
A medida obriga fornecedores de tecnologia a comprovar neutralidade ideológica em seus modelos, criando novos obstáculos para empresas como Google, OpenAI, Anthropic e xAI, que mantêm acordos milionários com a administração pública.
Ordem executiva veta IA woke em contratos federais
O texto do decreto descreve ideologias ligadas a diversidade, equidade e inclusão (DEI) como “destrutivas” e responsáveis por distorções nos resultados de sistemas de IA.
Questões relacionadas à teoria crítica da raça, transgenerismo e interseccionalidade são citadas como exemplos de conteúdos que devem ser eliminados das tecnologias contratadas por agências federais.
Trump declarou, durante evento sobre IA promovido pelo podcast All-In, que o governo federal passará a adquirir “apenas modelos dedicados à verdade, justiça e estrita imparcialidade”.
Quem é afetado imediatamente
A decisão ocorre uma semana depois de OpenAI, Anthropic, Google e xAI assinarem contratos com o Departamento de Defesa, com valores que podem chegar a US$ 200 milhões cada.
Essas companhias agora precisam revisar políticas de treinamento, ajuste fino e fornecimento para manter elegibilidade em projetos ligados à segurança nacional, infraestrutura e serviços públicos.
Analistas avaliam que o decreto pode redefinir prioridades internas de pesquisa, direcionando investimentos para versões “ideologicamente neutras” de chatbots e modelos de linguagem.
Exigência de neutralidade ideológica nos modelos
O documento oficial sustenta que a neutralidade é condição indispensável para garantir precisão, confiabilidade e utilidade dos resultados produzidos por algoritmos.
Especialistas, entretanto, contestam a premissa e lembram que a linguagem, por natureza, carrega dimensões culturais e políticas que tornam impossível alcançar total objetividade.
Apesar das críticas, a ordem executiva determina auditorias regulares e relatórios técnicos como pré-requisito para qualquer fornecimento de IA ao governo norte-americano.
Cronograma e critérios de conformidade
As agências terão 90 dias para apresentar planos de adaptação e estabelecer métricas de avaliação de viés.
Empresas que desejam vender soluções ao setor público precisarão documentar processos de treinamento, curadoria de dados e filtros ideológicos aplicados aos modelos.
Falhas em atender às novas exigências podem resultar em cancelamento de contratos e exclusão de futuras licitações federais.
Repercussão entre as gigantes de tecnologia
A xAI, de Elon Musk, já divulga seu chatbot Grok como “anti-woke” e afirma buscar informações fora da mídia tradicional, o que coloca a empresa em posição considerada favorável sob a nova política.
O Grok for Government foi recentemente incluído no catálogo da Administração de Serviços Gerais, permitindo compra direta por qualquer agência, apesar de ter sido temporariamente suspenso após respostas antissemitas.

Imagem: Larissa Ximenes via hardware.com.br
Google, OpenAI e Anthropic evitam comentários públicos extensos enquanto avaliam adaptações técnicas e jurídicas necessárias para manter a elegibilidade em contratos federais.
Potencial impacto financeiro
Os acordos firmados com o Departamento de Defesa representam fontes relevantes de receita recorrente e podem influenciar decisões estratégicas de P&D.
Companhias que não se alinharem às novas regras correm risco de perder parcelas substanciais do mercado governamental de IA, estimado em bilhões de dólares para a próxima década.
Consultorias de compliance já relatam aumento na demanda por serviços de auditoria de vieses e adequação de políticas de conteúdo.
Mudanças na estratégia nacional de IA
Além do decreto, a Casa Branca divulgou o Plano de Ação para IA de Trump, que prioriza construção de infraestrutura, redução de burocracia regulatória e competição com a China.
O documento sinaliza deslocamento do foco em riscos sociais para metas econômicas e geopolíticas, reforçando a busca por liderança global em tecnologia.
Projetos federais de grande escala, como modernização de redes de dados e expansão de computação de alto desempenho, devem acelerar nos próximos meses.
Questionamentos sobre viés e objetividade
Acadêmicos ressaltam que qualquer tentativa de eliminar completamente influências socioculturais da linguagem esbarra em limitações teóricas da sociolinguística.
Críticos sustentam que a política pode favorecer determinados pontos de vista e marginalizar grupos minoritários, contradizendo a promessa de neutralidade.
A discussão tende a se intensificar à medida que licitações federais passarem a exigir provas documentais de “ausência de agenda ideológica” nos modelos submetidos.
Próximos passos e monitoramento
Agências federais devem publicar orientações adicionais sobre avaliações de viés, critérios de exclusão de dados e formatos de relatório até o fim do semestre.
Empresas impactadas trabalham em versões ajustadas de seus sistemas, enquanto associações do setor planejam contestar judicialmente a interpretação de “IA woke”.
O mercado acompanha de perto possíveis revisões contratuais e os efeitos da política sobre a inovação no ecossistema de inteligência artificial norte-americano.