Possível novo mineral em Marte reforça estudo sobre atividade recente no planeta
Cientistas liderados por Janice Bishop, pesquisadora do Instituto SETI e do Centro de Pesquisa Ames da NASA, identificaram camadas incomuns de sulfatos de ferro em diferentes pontos da superfície marciana. A assinatura espectral observada sugere a presença de um composto ainda não catalogado, potencialmente um novo mineral em Marte.
Camadas de sulfatos revelam indícios inesperados
A equipe analisou dados coletados por sondas orbitais em regiões próximas ao sistema de cânions Valles Marineris, no planalto que se estende sobre o Juventae Chasma e na cratera de impacto Aram Chaos. Nessas áreas, os instrumentos registraram padrões espectrais compatíveis com hidroxissulfato férrico, composto raramente observado em ambientes naturais.
As camadas de sulfatos de ferro chamaram a atenção porque se sobrepõem a depósitos previamente catalogados, sugerindo processos químicos que ocorreram após a formação das estruturas geológicas originais. Segundo os pesquisadores, esse cenário aponta para eventos térmicos e hidrológicos mais recentes do que se pensava.
Experimentos simulam condições marcianas em laboratório
Para confirmar a hipótese, o grupo reproduziu em laboratório as condições que poderiam gerar o hidroxissulfato férrico detectado pelas sondas. De acordo com Johannes Meusburger, também do Centro Ames, os testes demonstraram que o composto apenas se forma quando sulfatos ferrosos hidratados são aquecidos na presença de oxigênio.
A síntese resultou em um material com estrutura cristalina e estabilidade térmica peculiares. As amostras apresentaram características distintas de minerais já catalogados, fortalecendo a possibilidade de que se trate de uma substância inédita, cuja origem depende da combinação de calor, água e oxidação.
Implicações da descoberta para a geologia marciana
A existência desse potencial novo mineral em Marte indica que partes do planeta vermelho permaneceram ativas do ponto de vista químico e térmico por mais tempo do que as estimativas tradicionais sugeriam. O achado reforça a hipótese de que processos hidrotermais ou vulcânicos teriam fornecido calor suficiente para modificar depósitos minerais em períodos relativamente recentes.
Essa conclusão amplia a compreensão sobre a evolução do solo marciano, pois demonstra que a interação entre água líquida, temperatura elevada e atmosfera rarefeita continuou a moldar a superfície depois da fase inicial de formação de Marte.
Reconhecimento oficial depende de achado terrestre
Para que a nova substância receba status de mineral oficialmente reconhecido, ela precisa ser encontrada também em nosso planeta, norma estabelecida pela Associação Mineralógica Internacional. Até o momento, não há registros de hidroxissulfato férrico com propriedades idênticas na Terra.

Imagem: Lubo Ivanko via olhardigital.com.br
Apesar desse requisito, Bishop ressalta que a identificação do composto em Marte já é suficiente para abrir linhas de investigação sobre sua distribuição, estabilidade e papel na história geológica do planeta. Mapas espectrais futuros poderão direcionar missões terrestres ou robóticas a locais onde o material esteja exposto.
Relação com a busca por sinais de vida
A presença de um mineral gerado por processos envolvendo calor e água tem relação direta com a habitabilidade de Marte. Ambientes hidrotermais concentram nutrientes e fornecem energia química, fatores considerados promissores para sustentar formas de vida microbiana.
Segundo Bishop, compreender como o hidroxissulfato férrico se forma pode revelar se regiões analisadas ofereceram condições favoráveis à vida em algum momento. A equipe pretende cruzar os resultados com dados de outras missões, como o rover Perseverance, que investiga rochas sedimentares e estruturas orgânicas em Jezero.
Publicação e próximos passos
Os resultados foram publicados em 5 de agosto na revista Nature Communications. O grupo agora planeja expandir a análise espectral para outras áreas de Marte e refinar os experimentos de laboratório, visando detalhar as condições de temperatura e umidade necessárias para a formação do composto.
Se confirmada, a descoberta do novo mineral em Marte terá impacto na interpretação cronológica da superfície planetária, ajustando modelos que descrevem a perda de água, a atividade vulcânica e a evolução atmosférica. A pesquisa reforça a importância de missões futuras capazes de coletar amostras e trazê-las à Terra para validação completa.
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