Estrutura microscópica revela origem do azul vibrante
Pesquisadores da City University de Hong Kong identificaram que o brilho azul do tubarão-azul (Prionace glauca) não depende de pigmentos químicos comuns, mas de dentículos dérmicos, pequenas escamas semelhantes a dentes. Essas estruturas contêm cristais de guanina que refletem a luz, além de melanossomos que absorvem outros comprimentos de onda, produzindo a tonalidade rara.
Os cientistas descrevem os dentículos como “sacos com espelhos” posicionados ao lado de “sacos escuros”. A disposição próxima permite que reflexão e absorção trabalhem juntas, criando uma coloração intensa e estável. No reino animal, o azul intenso é incomum, o que torna o mecanismo encontrado no tubarão-azul especialmente relevante para a biologia evolutiva.
Dentículos funcionam como microespelhos
Cada dentículo abriga placas de guanina empilhadas em intervalos precisos. O espaçamento determina quais comprimentos de onda são refletidos. Quando a distância é curta, a superfície devolve principalmente luz azul; se o intervalo aumenta, a pele começa a refletir verde ou até dourado. Esse controle físico explica a variação de cor observada no animal.
Mecanismo permite mudança de tonalidade em tempo real
O estudo, apresentado na Conferência Anual da Society for Experimental Biology, na Bélgica, aponta que pequenas alterações no espaçamento entre os cristais modificam o tom da pele. Fatores externos, como pressão da água e umidade do ambiente, provocam a reorganização dessas placas de guanina.
À medida que o tubarão mergulha em profundidade maior, o aumento da pressão tende a comprimir levemente as nanoestruturas, escurecendo o azul. Em regiões rasas, onde a pressão diminui, o espaçamento volta a aumentar, possibilitando nuances mais claras. Esse ajuste dinâmico melhora a camuflagem tanto na coluna d’água quanto próximo à superfície.
Pressão e umidade influenciam a camuflagem
Os pesquisadores observaram que variações muito sutis de umidade também afetam a coloração. A umidade altera o índice de refração no interior das células, amplificando o efeito óptico. Com isso, o tubarão-azul pode apresentar matizes discretamente diferentes em curtos intervalos de tempo, respondendo rapidamente às condições do habitat.
Investigações combinaram técnicas de imagem avançadas
Para desvendar a arquitetura das nanoestruturas, a equipe recorreu a dissecação em microescala, microscopia óptica de alta resolução, microscopia eletrônica e espectroscopia. A integração desses métodos permitiu mapear a forma dos dentículos e medir o espaçamento das placas de guanina com precisão nanométrica.

Imagem: uol.com.br
Segundo os autores, o emprego de múltiplas técnicas foi decisivo para correlacionar as dimensões físicas com o espectro de cores refletido. O conjunto de dados resultante demonstra como pequenas mudanças estruturais geram variações visíveis, fornecendo um modelo detalhado de fotônica biológica em cartilaginosos.
Potencial para aplicações tecnológicas sustentáveis
Além de elucidar um caminho evolutivo distinto dos peixes ósseos, a descoberta abre possibilidades de engenharia bioinspirada. A coloração estrutural dispensaria tintas químicas, reduzindo resíduos tóxicos e impactos ambientais na indústria de manufatura.
Superfícies hidrodinâmicas e autolimpantes
Os dentículos do tubarão-azul já são conhecidos por diminuir o arrasto e impedir a fixação de organismos na pele. Agora, pesquisadores sugerem que um revestimento sintético que una propriedades hidrodinâmicas a camuflagem óptica poderia beneficiar setores como transporte marítimo e equipamentos subaquáticos, aumentando a eficiência energética.
Próximos passos incluem testes no ambiente natural
Embora os ensaios de laboratório demonstrem o princípio optofísico, a equipe pretende observar tubarões-azuis em mar aberto para confirmar como pressão, umidade e luz interagem simultaneamente. A compreensão completa do mecanismo em condições reais permitirá avaliar o papel da cor mutável na sobrevivência, predação e comunicação da espécie.
A pesquisa também contribuirá para comparar caminhos evolutivos distintos entre tubarões, raias e peixes ósseos, ampliando o conhecimento sobre a diversidade de soluções naturais para produção de cor.
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