China pressiona por flexibilização dos controles de exportação de chips de IA
Autoridades chinesas pediram aos Estados Unidos a revisão das restrições impostas à venda de chips de memória de alta largura de banda (HBM), componentes considerados essenciais para aplicações de inteligência artificial (IA). O pleito foi apresentado durante conversas preparatórias para um eventual encontro entre os presidentes Donald Trump e Xi Jinping, segundo reportou o jornal Financial Times no domingo.
Quem conduz as conversas e por que o tema ganhou urgência
O Financial Times relata que representantes de Pequim expuseram a solicitação a especialistas em política externa em Washington. Pessoas familiarizadas com as discussões afirmaram que o afrouxamento das regras de exportação sobre HBM é visto pelo governo chinês como condição relevante para a assinatura de um acordo comercial mais amplo.
As autoridades chinesas argumentam que as atuais barreiras limitam o avanço tecnológico de companhias locais, entre elas a Huawei, na concepção de seus próprios processadores voltados para IA. O receio de Pequim é que a falta de acesso a componentes críticos amplie a distância tecnológica entre empresas chinesas e concorrentes globais.
O que são chips HBM e por que estão no centro do impasse
Os chips HBM concentram grande volume de dados a taxas elevadas de transferência, função indispensável em treinamentos de modelos de IA que exigem grande poder de processamento. Em geral, esses módulos são acoplados a unidades gráficas de processamento (GPUs) empregadas em data centers, com destaque para as soluções da norte-americana Nvidia.
Por essa razão, investidores acompanham de perto qualquer mudança regulatória que afete a disponibilidade dos componentes. Uma revisão dos controles poderia ampliar as vendas das fabricantes norte-americanas, mas também aceleraria a competitividade tecnológica chinesa, ponto que inquieta autoridades em Washington.
Posicionamento de Washington e histórico das restrições
A Casa Branca, o Departamento de Estado e o Ministério das Relações Exteriores da China não comentaram a reportagem do Financial Times até o momento. Desde 2019, sucessivas administrações norte-americanas vêm restringindo o acesso de empresas chinesas a semicondutores avançados, justificando a decisão com preocupações de segurança nacional e a necessidade de conter o desenvolvimento militar e de IA de Pequim.
Entre as medidas adotadas estão licenças de exportação mais rígidas, listas de entidades sob vigilância e limites de desempenho para chips vendidos à China. O Departamento de Comércio norte-americano determinou, por exemplo, que GPUs exportadas ao país não excedam capacidade de interconexão específica, restringindo o uso para treinamento de grandes modelos de IA.
Impacto no mercado de semicondutores dos EUA
Mesmo com as restrições, a China permanece como um dos maiores consumidores globais de semicondutores, garantindo parcela significativa da receita de empresas dos Estados Unidos. Analistas apontam que o dilema para Washington é equilibrar interesses comerciais com preocupações de segurança estratégica.
Imagem: uol.com.br
Caso a flexibilização dos controles sobre HBM seja aprovada, companhias norte-americanas podem registrar aumento de receita no curto prazo. Por outro lado, o relaxamento pode fortalecer a cadeia chinesa de IA, tema delicado para formuladores de política externa nos EUA.
Como as negociações podem avançar
Fontes citadas pelo Financial Times afirmam que a proposta chinesa faz parte de um pacote mais amplo de concessões comerciais que Pequim pretende discutir antes de um eventual encontro de cúpula. Não há confirmação oficial sobre datas nem sobre o formato das negociações.
Observadores em Washington dizem que o governo Trump avalia o custo político de ajustar regras de exportação em ano eleitoral. Qualquer mudança exigiria coordenação entre o Departamento de Comércio, o Departamento de Estado e o Congresso, que tem ampliado a vigilância sobre transferências de tecnologia para a China.
Expectativas para o setor de tecnologia e IA
Especialistas consultados por instituições financeiras avaliam que o pedido chinês pode ganhar força se estiver vinculado a contrapartidas em áreas como agricultura, serviços financeiros ou propriedade intelectual. Ainda assim, há ceticismo sobre a disposição de Washington em ceder em um componente considerado sensível para a segurança nacional.
Para o setor de tecnologia, o desfecho das conversas tende a influenciar cronogramas de lançamento de produtos, investimentos em fábricas e planos de pesquisa em IA. Fabricantes de memória tradicionalmente baseadas na Coreia do Sul e em Taiwan também acompanham o debate, já que suas exportações podem ser afetadas por eventuais ajustes na política norte-americana.
Até que haja definição, empresas chinesas seguem intensificando esforços para desenvolver alternativas domésticas aos chips HBM e reduzir a dependência de suprimentos externos. A velocidade com que Pequim conseguirá preencher essa lacuna dependerá, em boa medida, dos resultados das atuais negociações.
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