Aplicativo BILingo usa IA para revitalizar línguas indígenas
Projeto reúne pesquisadores do Brasil e da Alemanha
Pesquisadores da Universidade de Tübingen, na Alemanha, e da Universidade de São Paulo coordenam o desenvolvimento do BILingo, um aplicativo gratuito inspirado em plataformas de ensino de idiomas que aplica inteligência artificial à preservação de línguas indígenas em risco no Brasil.
Criado pelos cientistas Fabrício Gerardi e Gustavo Polleti, o projeto não tem fins comerciais e foi concebido exclusivamente para idiomas nativos. A primeira versão, prevista para 2025, contemplará o bororo e o makurapi, falados em Mato Grosso e Rondônia.
Como a ferramenta adapta o formato de aprendizado lúdico
O BILingo segue a lógica de tarefas curtas e gamificadas, semelhante à de aplicativos populares de idiomas. A principal diferença está na adaptação à realidade cultural das comunidades indígenas: o layout é fornecido pelos pesquisadores, enquanto o conteúdo é produzido pelos próprios falantes nativos.
Exercícios de tradução, leitura em voz alta, escuta e associação de imagens são gerados a partir de bancos de dados linguísticos. A IA cria as atividades e, depois, integrantes das comunidades revisam e aprovam cada item antes da liberação ao público.
Base de dados: resgate de palavras, fonemas e registros orais
A formação do acervo começa com a consulta a falantes remanescentes, geralmente anciãos ou professores indígenas. Livros, cadernos de campo e horas de gravações — entre elas leituras bíblicas em idiomas originários — completam o material.
No caso bororo, um repositório já reúne 60 mil frases derivadas de cantos, mitos, rituais e nomes de plantas e animais. Esse conteúdo alimenta uma biblioteca on-line de apoio ao ensino formal e informal da língua.
Para o makurapi, jovens como Jéssica Makurapi, de 24 anos, ajudam a transformar registros esparsos em listas de vocabulário e frases. Criada em português por receio de discriminação, ela busca recuperar o idioma materno por meio do aplicativo.
Testes em comunidades de Mato Grosso e Rondônia
Desde 2023, professores indígenas e pesquisadores realizam oficinas pedagógicas em Cuiabá para capacitar educadores bororo. Uma turma com cerca de 50 participantes concluiu o curso em 2024, com apoio da Secretaria de Estado de Educação do Mato Grosso e da missão salesiana.
Em Rondônia, duas pesquisadoras apresentaram o BILingo em maio à Terra Indígena Rio Branco. O objetivo é coletar vocabulário makurapi e avaliar a usabilidade do app em ambientes de baixa conectividade. Uma versão offline será disponibilizada para contornar limitações de internet.

Imagem: uol.com.br
Por que a IA é estratégica na revitalização de idiomas
Segundo o censo de 2010 do IBGE, o Brasil abriga 274 línguas indígenas, número inferior a um quarto das 1,2 mil estimadas antes da colonização europeia. A Unesco classifica 190 dessas línguas como ameaçadas.
A escassez de materiais didáticos e de especialistas cria lacunas que a inteligência artificial pode ajudar a preencher. De acordo com Polleti, revisar textos gerados automaticamente consome menos tempo do que produzir conteúdo do zero, liberando os falantes nativos para funções de validação cultural.
Desafios éticos: consentimento, segurança de dados e diversidade dialetal
Cada comunidade é consultada sobre o uso de seu patrimônio linguístico. Os desenvolvedores asseguram a inclusão de variações regionais e definem protocolos para armazenar dados com segurança.
Especialistas alertam para o risco de reproduzir lógicas extrativistas. A Fundação Nacional dos Povos Indígenas integrou, em julho, a Coalizão para a Diversidade Linguística em Inteligência Artificial, iniciativa da Unesco que discute diretrizes globais sobre o tema.
Próximos passos e expansão para outras línguas
Pelo menos duas novas línguas indígenas devem ingressar no BILingo após o lançamento inicial. A ampliação dependerá da formação de bancos de dados e do treinamento de mais professores indígenas.
Fernando O. de Carvalho, do Museu Nacional, afirma que a ferramenta permitirá produzir material didático mesmo sem linguistas presentes. A expectativa é acelerar a criação de conteúdo e fortalecer o ensino bilíngue em escolas indígenas.
A longo prazo, os pesquisadores planejam integrar recursos de síntese de voz, reconhecimento automático de fala e indicadores de progresso individual, mantendo a gratuidade para todas as comunidades.
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