ChatGPT e o impacto na capacidade de pensar
O avanço da inteligência artificial generativa reavivou uma pergunta formulada em 2008, quando a revista The Atlantic publicou o ensaio “O Google está nos deixando estúpidos?”. Dezesseis anos depois, as dúvidas deslocam-se dos mecanismos de busca para ferramentas como o ChatGPT, que acumulou 100 milhões de usuários em apenas dois meses após o lançamento.
O professor Aaron French, especialista em Sistemas de Informação na Universidade Estadual de Kennesaw, acompanha o fenômeno há mais de duas décadas e alerta: a linha entre usar a IA para apoiar o raciocínio ou para substituí-lo está cada vez mais tênue.
Comparação histórica: do Google ao ChatGPT
Em 2008, Nicholas Carr argumentou que a busca on-line reduzia a necessidade de reter fatos, empurrando leitores para um pensamento mais raso. À época, ainda era preciso avaliar diversas páginas, comparar fontes e checar dados. Hoje, o ChatGPT entrega respostas únicas, polidas e rápidas, mudando o papel do usuário de investigador para receptor.
A diferença crucial, afirma French, é que a IA generativa não apenas recupera conteúdo: ela cria, resume e interpreta. Pela primeira vez, parte do trabalho intelectual — análise e síntese — pode ser totalmente terceirizada.
Como a IA generativa altera o processo cognitivo
O uso cotidiano do ChatGPT simplifica tarefas como redigir textos, resumir relatórios ou preparar códigos. Ganhos de produtividade são evidentes, mas a conveniência levanta dúvidas sobre possíveis perdas de habilidades críticas, resolução de problemas complexos e atenção sustentada.
Pesquisas específicas ainda são escassas, porém French observa indícios de que o consumo passivo de respostas prontas diminui a curiosidade, encurta o foco e promove dependência. Quanto menos o usuário questiona a saída gerada, maior o risco de aceitar premissas implícitas ou informações incompletas.
Efeito Dunning-Kruger e a dependência da IA
Para ilustrar o dilema, o professor recorre ao efeito Dunning-Kruger, segundo o qual pessoas com pouca competência tendem a superestimar o próprio conhecimento, enquanto especialistas reconhecem suas limitações. Ferramentas como o ChatGPT podem inflar essa autoconfiança, pois permitem repetir respostas elaboradas sem compreender a fundo o conteúdo.
Na prática, dois perfis emergem. Parte dos usuários permanece no que French chama de “Pico do Monte Estúpido”, confiando na IA como substituta da criatividade. Outros utilizam o sistema para ampliar suas habilidades, confrontar ideias e aprofundar análises.
Do risco de complacência à ampliação da capacidade intelectual
O mesmo recurso que favorece a preguiça mental pode, se bem empregado, impulsionar o aprendizado. French sugere algumas práticas:

Imagem: uol.com.br
• Verifique a exatidão: compare a resposta da IA com fontes independentes.
• Questione premissas: peça ao ChatGPT justificativas, exemplos e referências.
• Use como ponto de partida: trate o resultado como rascunho, não como conclusão final.
• Explore múltiplas perspectivas: solicite contra-argumentos para enriquecer o debate.
Segundo o professor, a diferença entre perder e ganhar capacidade cognitiva reside no grau de criticidade aplicado à ferramenta.
Implicações para o futuro do trabalho
Expressões como “a IA não vai tirar seu emprego, mas alguém que usa IA vai” tornaram-se lugar-comum. French acrescenta um alerta: profissionais que delegarem completamente o pensamento ao ChatGPT serão os mais fáceis de substituir. Já aqueles que integrarem a IA ao processo criativo tendem a gerar resultados inalcançáveis para humanos ou máquinas isolados.
Empregadores passam a valorizar habilidades metacognitivas — a capacidade de refletir sobre o próprio pensamento — para garantir que as respostas da IA sejam interpretadas, ajustadas e aplicadas corretamente.
Conclusão: uso crítico define o efeito do ChatGPT
A questão “O ChatGPT está nos deixando estúpidos?” não pode ser respondida apenas observando a tecnologia. O desfecho depende da postura adotada pelos usuários. Se servido como atalho para o raciocínio, o sistema pode induzir estagnação intelectual. Quando tratado como parceiro de investigação, torna-se catalisador de ideias, amplia a compreensão de temas complexos e estimula a criatividade.
French encerra seu argumento invertendo a provocação original: “Como usaremos o ChatGPT para nos tornar mais inteligentes?” A resposta, afirma, não está no código, mas na forma de interação humana com a inteligência artificial.
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