Magisterium AI: inteligência artificial católica amplia acesso a orientação religiosa
Ferramenta foi criada pela Longbeard para responder dúvidas de fé
A Longbeard, empresa especializada em tecnologia para organizações religiosas, lançou o Magisterium AI, um chatbot concebido para oferecer aconselhamento espiritual a católicos em todo o mundo. O recurso utiliza inteligência artificial para responder perguntas sobre doutrina, rituais e passagens importantes da tradição da Igreja.
O projeto foi apresentado como uma alternativa digital destinada a fiéis que buscam esclarecimento sobre temas específicos da religião, mas não têm acesso imediato a um líder religioso ou a uma biblioteca de documentos eclesiásticos.
Como a inteligência artificial foi treinada
Segundo reportagem do The Washington Post, o Magisterium AI foi treinado com 27 000 documentos oficiais da Igreja Católica. O conjunto inclui encíclicas papais, atas de concílios e textos litúrgicos que abordam momentos considerados centrais para a vida do fiel, como batismo, crisma, confissões e celebrações litúrgicas.
Matthew Harvey Sanders, fundador da Longbeard, explicou que a base textual permite que “os papas do passado e os papas de hoje falem através da IA”, possibilitando respostas alinhadas com o magistério oficial.
Curadoria envolve conselho acadêmico
Um conselho acadêmico formado por oito especialistas em teologia e história da Igreja supervisiona a seleção do conteúdo utilizado no treinamento da ferramenta. O grupo avalia se cada documento preserva a integridade doutrinária e atende aos critérios de relevância antes de ser incorporado ao sistema.
A curadoria procura assegurar que o chatbot ofereça respostas consistentes com o ensino católico, reduzindo o risco de interpretações equivocadas ou contraditórias.
Integração com aplicativo de oração expande alcance
O Magisterium AI foi recentemente integrado ao Hallow, aplicativo de oração cristã que figura entre os mais baixados do segmento. A parceria torna o chatbot acessível a uma base maior de usuários, que podem interagir com a inteligência artificial diretamente no aplicativo para esclarecer dúvidas ou acompanhar práticas de meditação guiada.
Com a integração, o sistema passou a oferecer respostas em formato de conversa instantânea, em um modelo semelhante ao de outros assistentes de IA amplamente utilizados, como o ChatGPT. A empresa relata que a ferramenta já conta com cerca de 100 000 usuários mensais.

Imagem: Anggalih Prasetya via olhardigital.com.br
Disponibilidade em idioma e território
De acordo com a Longbeard, o Magisterium AI está disponível em mais de 165 países e oferece suporte a mais de 50 idiomas. A abrangência linguística inclui português, espanhol, inglês, francês e outros idiomas utilizados em comunidades católicas ao redor do mundo.
A possibilidade de acesso global foi apontada pela empresa como meio de democratizar o estudo da fé, principalmente em regiões onde a disponibilidade de clérigos ou bibliotecas especializadas é limitada.
Debate na Igreja sobre o uso de IA
O avanço de ferramentas baseadas em IA para fins religiosos provoca discussões dentro da Igreja Católica. O Papa Leão XIV alertou recentemente que a inteligência artificial pode ameaçar a dignidade humana quando se sobrepõe à busca pelo sentido autêntico da vida. Na avaliação do pontífice, a sabedoria não deve ser reduzida apenas à análise de grandes volumes de dados.
Em posição distinta, bispos do estado norte-americano de Maryland publicaram carta aberta defendendo que a tecnologia, assim como a imprensa, o rádio ou a internet, pode ser usada para o bem comum. Para eles, as ferramentas digitais podem promover a santidade e o desenvolvimento humano quando aplicadas com responsabilidade.
Perspectivas para o futuro
A Longbeard afirma que continuará a expandir a base documental da plataforma, sempre submetendo novos textos à avaliação do conselho acadêmico. A empresa também estuda implementar recursos que permitam aos usuários solicitar orientações mais personalizadas, respeitando a privacidade dos dados e as diretrizes da Igreja.
Enquanto parte do clero observa a iniciativa com cautela, a demanda por soluções digitais e a popularização de dispositivos móveis sinalizam que ferramentas como o Magisterium AI devem permanecer no centro do debate sobre o papel da tecnologia na vida religiosa.