Mia Zelu acumulou mais de 160 mil seguidores no Instagram ao exibir viagens, treinos e reflexões motivacionais. Durante semanas, o perfil ganhou visibilidade ao aparecer em cenários como ilhas gregas, ruas francesas, praias espanholas e até arquibancadas de Wimbledon.
Apesar da sensação de autenticidade, a criadora de conteúdo nunca existiu fora do ambiente digital. Todas as imagens, legendas e interações foram geradas por inteligência artificial, o que foi explicitado apenas em uma breve menção na biografia do perfil.
Fenômeno influencer criado por IA
O avatar foi projetado para se comportar como uma influencer em ascensão. O feed exibe fotos com enquadramentos típicos de turismo, rotina de exercícios detalhada em destaques e textos introspectivos que simulam reflexões pessoais. Em uma das publicações, Mia descreveu a experiência de assistir a um show do Coldplay e questionou como as pessoas lidariam com seus piores momentos expostos.
A estratégia incluiu respostas a perguntas frequentes, legendas em tom confessional e uso de filtros que conferem consistência visual a todas as imagens. O resultado foi um engajamento comparável ao de criadores humanos, com comentários elogiosos, convites para parcerias e menções de outras contas influentes.
Repercussão do caso influencer virtual
O interesse comercial ficou evidente quando o perfil apresentou um endereço de e-mail para contato profissional, sinalizando disposição para acordos de publicidade. Esse canal, porém, foi removido recentemente, e o responsável pela operação segue anônimo.
Especialistas em marketing digital observam que a rápida aceitação de Mia demonstra o apelo de personagens virtuais bem produzidos. O caso levanta questões sobre transparência e responsabilidade, já que muitos seguidores não perceberam a natureza artificial do conteúdo.
Nas publicações mais populares, a influencer virtual aparece com roupas de marcas conhecidas e cenários turísticos reconhecíveis. Vários comentários tratam as imagens como reais, indicando que o aviso na biografia passou despercebido por parte do público.
Fotos em eventos como Wimbledon reforçaram a impressão de autenticidade. Imagens manipuladas colocaram o avatar em locais lotados, misturando pessoas reais com a figura gerada por computador. A técnica combinou bancos de dados fotográficos, modelagem 3D e pós-produção para inserir o personagem com iluminação e perspectiva compatíveis.

Imagem: William R via hardware.com.br
Embora a criação utilize produtores de conteúdo automatizados, não há indícios de violações de direitos autorais nas imagens divulgadas. O material parece ter sido construído a partir de fotografia original ou bancos de imagens de uso livre, editados para manter coerência entre cenários, roupa e postura do avatar.
Analistas apontam que perfis semelhantes já vinham surgindo em plataformas como TikTok e YouTube, porém raramente alcançavam números tão altos em tão pouco tempo. A combinação de estética realista, narrativa contínua e ausência de falhas perceptíveis ampliou o alcance de Mia.
O Instagram não removeu a conta, pois a empresa permite personagens fictícios, desde que não violem diretrizes de uso. A menção “AI Influencer e digital storyteller” no perfil atende às exigências de identificação mínima, embora não detalhe o processo completo de criação.
Enquanto isso, parte dos seguidores expressa surpresa ao descobrir a natureza artificial da influencer. Comentários recentes mostram usuários revendo curtidas e questionando parcerias firmadas, sugerindo possível impacto na confiança entre público e marcas.
Até o momento, não há confirmação sobre planos futuros para o projeto. O criador permanece sem identificação pública, e o perfil segue ativo, com novas postagens agendadas. O caso de Mia Zelu passa a integrar a lista de exemplos de como ferramentas de inteligência artificial podem produzir personas críveis e engajar grandes audiências sem participação humana visível.