Amazon amplia portfólio de IA pessoal
A Amazon confirmou a compra da startup Bee AI, criadora de um dispositivo vestível capaz de registrar e transcrever as conversas do usuário em tempo real. A CEO da Bee, Maria de Lourdes Zollo, anunciou a operação em rede social e afirmou que a tecnologia passará a integrar o ecossistema da gigante do comércio eletrônico.
O acordo, de valores mantidos em sigilo, inclui ofertas de emprego a todos os colaboradores da Bee, sinalizando intenção da Amazon de absorver tanto a plataforma quanto a equipe técnica responsável pelo desenvolvimento do produto. A transação ainda aguarda etapas finais de conclusão.
Com preço de venda de US$ 49,99, cerca de R$ 280, o gadget lembra visualmente pulseiras de atividade como o Fitbit, mas com foco distinto: registrar todo o áudio ambiente, transformar o conteúdo em texto e gerar resumos diários, lembretes e recomendações via aplicativo dedicado.
Além das falas detectadas, o usuário pode autorizar acesso a e-mails, contatos, localização, fotos, calendário e lembretes. O conjunto de informações é processado por inteligência artificial para formar um histórico pesquisável e oferecer sugestões personalizadas sobre tarefas e agenda.
Esse método amplo de coleta de dados provocou questionamentos de especialistas em segurança digital. Eles apontam riscos de exposição indevida de conteúdo sensível, uma vez que o dispositivo lida com conversas de terceiros que podem não ter consentido com a gravação.
Testes executados pela jornalista Victoria Song, do site The Verge, mostraram limitações relevantes. O wearable confundiu diálogos reais com falas de programas de TV, vídeos do TikTok, músicas e filmes reproduzidos no ambiente, comprometendo a precisão das transcrições e dos resumos gerados.
Procurada, a porta-voz da Amazon, Alexandra Miller, declarou que a companhia “se importa profundamente com a privacidade e a segurança dos clientes” e que não comercializa dados pessoais com terceiros. Segundo ela, os futuros usuários continuarão a dispor de controles para definir o que é coletado e armazenado.
Na Bee AI, a política previa não reter áudios captados, apenas as transcrições necessárias para funcionamento dos recursos de IA. A Amazon não detalhou se manterá exatamente o mesmo modelo, mas indicou que seguirá princípios já adotados em produtos como Echo e assistente Alexa.
Amazon enfrenta desafios de privacidade
No Brasil, a eventual oferta do dispositivo será analisada sob a Lei Geral de Proteção de Dados. A norma exige bases legais claras para tratamento de informações pessoais e pode demandar ajustes específicos na configuração do wearable para atender exigências de consentimento e minimização de dados.
Até o momento, a Amazon não apresentou cronograma para lançamento do produto no mercado brasileiro. A companhia informou que avalia condições locais e requisitos regulatórios antes de definir estratégia comercial fora dos Estados Unidos.
A aquisição reforça a expansão da Amazon em inteligência artificial voltada ao uso cotidiano. A empresa já emprega robôs em centros de distribuição, opera a linha de alto-falantes inteligentes Echo e mantém o assistente virtual Alexa, buscando integrar dispositivos e serviços em um ecossistema conectado.
Com a incorporação da Bee AI, a companhia adiciona um recurso de coleta de dados em tempo real ao portfólio, possivelmente complementando soluções existentes de voz. A união tecnológica pode permitir interação mais contextualizada entre o usuário e os serviços da Amazon.
Apesar dos benefícios esperados, a adoção do wearable continua cercada de dúvidas sobre acurácia e proteção de dados. Órgãos regulatórios, consumidores e especialistas acompanham como a Amazon adaptará a ferramenta a diferentes mercados, mantendo equilíbrio entre inovação e responsabilidade no processamento de informações pessoais.