O retorno de Donald Trump à Casa Branca provocou um bloqueio significativo no Cancer Moonshot, iniciativa lançada para reduzir em 50% as mortes por câncer até 2047. O programa, que dependia de financiamento federal contínuo, perdeu ritmo após suspensão de repasses.
Efeitos imediatos dos cortes
Por mais de dois meses, o governo interrompeu a liberação de bolsas dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH), retendo aproximadamente US$ 1,5 bilhão. Essa pausa travou ensaios clínicos, atrasou a aprovação de novos medicamentos e criou incerteza entre equipes de pesquisa espalhadas pelo país.
A paralisação afetou diretamente o FDA, o NIH e o CDC, órgãos que registraram demissões em massa durante o período de estagnação orçamentária. Projetos em andamento voltados a veteranos, estudos ambientais na EPA e investigações sobre poluição relacionada ao câncer também ficaram sem recursos.
Além da suspensão imediata, a proposta orçamentária republicana prevê corte de até 60% nos programas de pesquisa médica do Departamento de Defesa. Essa redução atinge linhas de investigação dedicadas a câncer de mama, ovário, pulmão e outros tipos amplamente estudados pelas forças armadas.
Muitos estudos interrompidos foram temporariamente realocados para programas paralelos, porém sem garantia de verba em 2025. Pesquisadores relatam incerteza quanto à continuidade das análises de longo prazo e mencionam dificuldades para manter equipes especializadas.
Cortes atingem universidades e agências
Harvard e Columbia, frequentemente criticadas pelo governo, estão entre as instituições que perderam parte expressiva de seus subsídios. Documentos internos indicam que projetos rotulados por palavras-chave ligadas a diversidade, identidade de gênero ou saúde pública foram os mais afetados.
A filtragem por termos sensíveis reflete a agenda anti-DEI, anti-trans e antivacina da administração, segundo os registros obtidos por servidores. Com isso, laboratórios que investigavam disparidades de tratamento ou impactos de fatores sociais na oncologia tiveram bolsas suspensas.
No Instituto Nacional do Câncer (NCI), Trump propôs orçamento inferior ao de 2014, anulando avanços conquistados em sequências de genomas tumorais e terapias personalizadas. A redução compromete a meta de alcançar novos patamares de sobrevida no curto prazo.
O CDC também enfrenta reestruturação. Programas classificados como duplicados ou supostamente desnecessários, entre eles centros de prevenção de doenças crônicas e ambientais, correm o risco de ser encerrados, impactando bases de dados usadas por oncologistas em todo o país.
A matéria da WIRED destaca que, embora decisões judiciais possam reverter partes dos cortes, o dano a pacientes é imediato. Voluntários excluídos de ensaios perdem acesso a terapias experimentais que muitas vezes oferecem a única alternativa após tratamentos padrão.
Especialistas apontam que cada mês de atraso em pesquisas sobre câncer pode retardar a aprovação de medicamentos potencialmente salvadores. A interrupção desestimula jovens cientistas, reduz a competitividade global da ciência norte-americana e compromete o intercâmbio internacional.
Nos laboratórios militares, onde a disciplina facilita ensaios clínicos rápidos, a falta de recursos encerrou estudos sobre agentes quimiopreventivos testados em bases estrangeiras. Sem a verba do Pentágono, esses projetos retornarão à fase pré-clínica, aumentando custos futuros.
A EPA, responsável por investigações sobre poluentes cancerígenos, também teve programas suspensos. Pesquisas que avaliavam correlação entre emissões industriais e incidência de câncer em comunidades vulneráveis pararam, adiando recomendações regulatórias.
Funcionários afastados relatam que demissões atingiram profissionais especializados em estatística, bioinformática e condução de ensaios de fase II. A dispersão dessas equipes dificulta recuperar o ritmo científico, mesmo que o financiamento seja retomado integralmente.
Sem verbas novas até o fim do ano fiscal, universidades e centros médicos preveem congelamento de contratações, atraso em publicações e suspensão de bolsas de pós-doutorado. O panorama cria risco de fuga de cérebros para países com programas de câncer mais estáveis.
Enquanto o Congresso discute eventuais recomposições, pacientes participantes do Cancer Moonshot enfrentam incerteza sobre a continuidade de tratamentos. Em um campo onde a rapidez decide prognósticos, o impacto humano dos cortes já se tornou irreversível.