Capitalismo chantagista: conceito e origem
Pesquisadores que estudam a relação entre economia e política identificam um novo cenário global a partir da crise financeira de 2008. Segundo esses especialistas, o antigo “Consenso de Washington” foi substituído por um modelo apelidado de “capitalismo chantagista”.
O termo descreve a oferta de benefícios parciais em troca da tolerância a violações de direitos. Essa dinâmica, observada em diferentes regiões, sugere uma “refeudalização do mundo”, marcada pela ideia de que “não há sociedade para todos”.
Crise de 2008 e refudalização do mundo
Entre os efeitos mais visíveis estão o desinvestimento em políticas públicas que haviam avançado nas décadas anteriores. A reforma antimanicomial, por exemplo, foi adotada como política estatal na Argentina em 1991, no Brasil em 2001 e no Uruguai em 2009. Após 2008, ocorreu um processo gradual de retirada de recursos, comprometendo a manutenção dessas conquistas.
Retrocesso nos direitos humanos no Brasil sob Bolsonaro
Em 2023, a Anistia Internacional Brasil listou 32 violações de direitos humanos atribuídas ao governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, hoje preso. O relatório aponta retrocessos em saúde, educação, meio ambiente e proteção de grupos vulneráveis.
32 violações listadas pela Anistia
Entre os pontos destacados estão:
• Gestão da pandemia: declarações que minimizaram a covid-19, trocas sucessivas de ministros da Saúde e demora na compra de vacinas.
• Povos indígenas: omissão diante de surtos e falta de assistência.
• Educação: mudanças frequentes na pasta e ataques a programas de ensino sexual.
• Sistema prisional: escassez de testagem e tratamento na pandemia.
• Discursos de ódio: disseminação on-line de conteúdo machista, homofóbico e misógino.
• Meio ambiente: desmonte de Ibama e ICMBio.
A expectativa de revisão rápida dessas políticas, segundo analistas, não se confirmou. Em vez disso, observou-se um processo gradual de correção, alimentando percepções de complacência moral e fortalecendo tendências autoritárias.
Paradoxo dos direitos universais
A discussão sobre universalidade de direitos ganhou relevo após a Segunda Guerra, com a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. No entanto, o princípio vem sendo alvo de críticas por parte de países socialistas, teocracias islâmicas e correntes acadêmicas.
Histórico de traumas coletivos
Pensadores como Enrique Dussel e François Julien observam uma “patologia da universalização cultural”. Conflitos traumáticos, do genocídio armênio ao massacre de Ruanda, mostraram que a criação de normas globais não impede repetições de violência. A chamada “zona branca da lei”, expressão inspirada na série argentina “O Eternauta”, aponta momentos em que a legislação se torna indiferente a atos extremos.

Imagem: uol.com.br
Dussel identifica duas políticas em tensão: a da incomensurabilidade, que vê cada sofrimento como único, e a da comunicabilidade universal, que exige negar particularidades para formar um corpo político. Quando combinadas, essas abordagens podem gerar ressentimento e abrir espaço para populismos.
Gaza como laboratório global de chantagem política
Estudiosos enxergam na Faixa de Gaza o “ponto máximo” do capitalismo chantagista. A permanência de Benjamin Netanyahu e do partido Likud no poder é atribuída à manipulação do temor real representado por Hamas, Hezbollah e Irã. Essa ameaça serve de justificativa para operações militares, ocupações e ações em territórios vizinhos.
A lógica seria semelhante a outros “laboratórios” históricos, como o extermínio na Namíbia na década de 1930, considerado ensaio para os campos nazistas, ou os “currais” no Ceará durante o governo Vargas, onde a população foi submetida a trabalho forçado sob o pretexto de combater a seca.
Nesse contexto, o “ódio ao universal” surge como reação às promessas não cumpridas de proteção igualitária. O fenômeno, segundo os analistas, alimenta a descriminalização gradual da chantagem, observada em práticas políticas que operam “dentro da lei”, mas normalizam violações.
Desafios para um novo consenso
Especialistas avaliam que superar o atual impasse requer distinguir universais formais de consensos empíricos. A proposta envolve sobrepor princípios jurídicos sólidos a barganhas circunstanciais, evitando que normas sejam usadas para legitimar desigualdades.
O debate volta-se, assim, para a capacidade de construir mecanismos que integrem vozes particulares sem sacrificar a força coercitiva das leis. Para estudiosos das transformações sociais, esse é o ponto de virada necessário para enfrentar o capitalismo chantagista e o ódio ao universal.
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